- Karla Kratschmer
Para existir

Boa parte da obra de Winnicott foi dedicada à relação mãe-bebê e os efeitos negativos que uma criança pode sofrer quando cresce em um ambiente não facilitador, com uma mãe não suficientemente boa (lembrando que a mãe aqui não se trata da mulher, mas da figura materna).
E esse ambiente facilitador, essa mãe suficientemente boa, inclui o olhar para a criança que segundo Winnicott a possibilitará de olhar para o mundo; como se o bebê pensasse ‘olho e sou visto, logo, existo’.
No livro ‘Ensaio sobre a Cegueira’ há uma passagem muito bonita descrevendo o sentimento de uma personagem que não cegou, que ao se deparar com as imagens de uma Igreja, todas de olhos vendados, diz: “(...) as imagens veem com os olhos que as veem, só agora a cegueira é para todos (...) cada vez irei vendo menos, mesmo que não perca a vista tornar-me-ei mais e mais cega cada dia porque não terei quem me veja” (p. 302).
E o ser humano busca isso, busca esse olhar. E como disse Winnicott, pode ser uma alegria estar escondido, mas é um desastre não ser encontrado.
Karla Kratschmer | Psicologia&Psicanálise | CRP 06/121815
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